Parte cenica triunfa numa versao imperdivel do Shakespeare da opera

Luiz Paulo Horta

Um classico e sem- pre um classico e uma das caracte- risticas que quase о define e que ele e feito para ser revisitado. A “Traviata”, de Verdi, e obra de um grande classico — о Shakespeare da opera. Quantas e quantas ve- zes ja a vimos? E no entanto, na magnifica “Traviata” que, desde a semana passada, ocu- pa о Teatro Municipal do Rio, quanta coisa boa a ser revista, revivida… Antes de tudo, a al¬ma imensa de Verdi, que — со¬то Shakespeare — e capaz de enfiar-se na pele dos seus per- sonagens e de fazer deles coi- sas vivas.

A “Traviata” e, claro, uma opera romantica — muito ro- mantica, diriam alguns. О quarto ato pode ser longo de- mais para um espectador de hoje — aquela agonia intermi- navel, num seculo em que as pessoas morriam em casa, di- ziam “dltimas palavras”. aqui que a convengao da ope¬ra pesa um pouco; por exem- plo, Alfredo e Violetta em duo, nos dltimos momentos da he- roina, embarcando numa aria- zinha quase animada, que nin- guem cantaria nas vascas da agonia.

Bordel de luxo nao e

sala de princesas

Mas sao detalhes; no mais, que obra moderna — сото sempre sao os classicos! Co¬mo  so aqui que a convengao da ope¬ra pesa um pouco; por exem- plo, Alfredo e Violetta em duo, nos dltimos momentos da heroina, embarcando numa aria- zinha quase animada, que nin- guem cantaria nas vascas da agonia. Mas sao detalhes; no mais, que obra moderna — сото sempre sao os classicos! Co¬mo ela entra logo no assunto e, de saida, рое о leitor no cen- trojda arte do bel canto! Essa versao da “Traviata”, que ninguem deveria perder, e carregada de ponta a ponta pela grande arte da soprano georgiana Eteri Lamoris. Que voz! Ha quanto tempo nao viamos, no Municipal, uma subida tao facil e tao bela para as regioes agudas! Ela tambem acerta muito no timbre, con- vincentemente musical.